Rendimento da Poupança Fica Atrás da Inflação e Quebra Sequência de Lucros

Em Fevereiro, Investidores Testemunham a Inversão de Ganho Real na Tradicional Caderneta

No último mês, a caderneta de poupança, tradicional forma de investimento dos brasileiros, apresentou um revés em sua performance, registrando uma perda real de 0,29% em seu rendimento. Esse declínio marca o fim de uma sequência de ganhos reais que vinha desde fevereiro do ano anterior, de acordo com análises da Economatica, uma reconhecida instituição no ramo de informações financeiras.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro atingiu 0,83%, superando o rendimento nominal da poupança de apenas 0,54%, evidenciando uma erosão no poder de compra dos investidores dessa modalidade. Este cenário coloca em cheque a eficácia da poupança como um investimento seguro em períodos de aceleração inflacionária.

Matheus Spina, economista da Economatica, destacou a quebra da tendência de lucratividade. “Após um período favorável desde fevereiro de 2023, enfrentamos agora uma interrupção nesses ganhos”, comentou. A análise do bimestre revela uma perda real acumulada de -0,10%, pondo em perspectiva os desafios para a manutenção de ganhos consistentes frente à inflação.

O ano de 2023 havia começado com um alento para os poupadores, que viram a caderneta superar a inflação em janeiro, com um lucro real de 0,18%. Contudo, a somatória do rendimento nominal de 1,15% nos primeiros dois meses do ano não foi suficiente para combater a inflação acumulada de 1,25% no mesmo período.

Apesar dos desafios recentes, a poupança tem seus defensores. Miguel Ribeiro, da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), ressalta a simplicidade e a igualdade de tratamento como pontos fortes desse tipo de investimento, contrastando com as taxas administrativas variáveis de fundos de renda fixa.

Os especialistas concordam que a poupança ainda pode se destacar em cenários de baixa inflação e taxas de juros elevadas, condições que favorecem o ganho real. Com a Selic atual em 11,25% ao ano, a poupança segue remunerada pela taxa referencial (TR), mais uma taxa fixa de 0,5% ao mês, o que pode se traduzir em vantagens para o investidor atento.

Entretanto, a caderneta de poupança tem enfrentado um histórico desafiador, com recordes de retiradas, refletindo tanto a concorrência com outras formas de investimento quanto o nível de endividamento da população. Em 2022, a poupança registrou a pior captação negativa de sua história, com saídas líquidas de R$ 103,23 bilhões, e em 2023, a tendência de retração se manteve, com retiradas líquidas de R$ 87,8 bilhões.

Este panorama sugere uma reflexão profunda sobre a viabilidade da poupança como a principal escolha de investimento para os brasileiros, especialmente em um contexto econômico volátil e de incertezas financeiras.

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