Banco Central interrompe cortes e mantém Selic em 10,5% ao ano

Decisão do Copom reflete incertezas econômicas e críticas políticas.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (19), interromper o ciclo de cortes na taxa básica de juros, mantendo a Selic em 10,5% ao ano. A decisão, que veio de forma unânime, alinha-se às expectativas de economistas e investidores, que já previam a manutenção devido ao cenário econômico global e às percepções de risco fiscal no Brasil.

Desde agosto de 2023, o Copom vinha reduzindo a Selic de forma gradual. No início de maio, a taxa foi reduzida para 10,5% ao ano, marcando a sétima redução consecutiva, embora em um ritmo mais lento: de cortes de 0,5 ponto percentual, a redução passou para 0,25 ponto percentual.

A decisão do Banco Central ocorre em um contexto de críticas políticas intensificadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acusou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de falta de autonomia e de prejudicar o país. Em uma entrevista recente, Lula afirmou que a política de juros altos é um entrave ao crescimento econômico e aos investimentos no setor produtivo.

“Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está. O Brasil não pode continuar com a taxa de juros proibitiva de investimentos no setor produtivo,” disse Lula, destacando a necessidade de uma redução na Selic para incentivar a economia.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem mostrado uma trajetória de alta, com um aumento de 0,46% em maio e um acumulado de 3,93% nos últimos 12 meses. As previsões do Copom apontam que a inflação deve atingir 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025, enquanto a inflação dos preços administrados está projetada em 4,4% para 2024 e 4,0% para 2025.

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, ressaltou que as incertezas domésticas, especialmente em relação ao risco fiscal, continuam elevadas. “As incertezas citadas nas comunicações do comitê se mantiveram em patamar elevado, ou mesmo aumentaram,” afirmou em um relatório recente.

As previsões do mercado financeiro indicam que a Selic deve encerrar 2024 em 10,5% ao ano, com uma possível redução para 9,5% em 2025 e 9% em 2026 e 2027, refletindo expectativas de um cenário econômico mais estável a longo prazo.

Histórico e Função da Selic

De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic em 12 reuniões consecutivas para conter a alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis. Após manter a taxa em 13,75% por um ano, o Banco Central iniciou cortes em agosto de 2023, acompanhando o controle da inflação.

A Selic serve como piso para os demais juros cobrados no mercado, sendo o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação. Juros mais altos encarecem o crédito e reduzem o consumo, enquanto juros mais baixos incentivam a produção e o consumo, tornando o crédito mais acessível.

A manutenção da Selic em 10,5% reflete a cautela do Copom diante de um cenário econômico complexo e das pressões políticas, buscando equilibrar o controle da inflação com a necessidade de promover o crescimento econômico sustentável.

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