Kremlin Anuncia Exercício de Armas Nucleares Táticas em Meio a Aumento de Conflitos com o Ocidente.
O governo russo, liderado por Vladimir Putin, ordenou um exercício de ataque com armas nucleares táticas como resposta às sugestões de governos ocidentais, especialmente o da França, de enviar soldados para ajudar a Ucrânia a resistir à invasão russa.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, o anúncio dos exercícios feito pelo Ministério da Defesa russo nesta segunda-feira (6) é uma retaliação direta às declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, e de políticos britânicos e americanos que apoiaram a ideia. A agência de espionagem militar de Kiev rotulou os exercícios como “chantagem nuclear”.
Peskov também informou que os serviços de inteligência russos estão investigando relatos de que a França já teria enviado soldados de sua Legião Estrangeira para a Ucrânia. Embora mercenários de diversas nacionalidades, incluindo brasileiros, tenham sido avistados combatendo no país vizinho, até o momento não há confirmação oficial de envio de tropas em apoio a Kiev.
A simulação de ataque nuclear anunciada pela Defesa russa destaca o emprego de sistemas de armas nucleares não estratégicas, suscitando preocupações no Ocidente sobre o uso desse tipo de arma contra forças ucranianas ou, agora, contra países aliados que eventualmente enviem tropas para o conflito iniciado em 2022.
Armas nucleares táticas são projetadas para serem utilizadas contra alvos militares específicos, como bases, e geralmente possuem menor potência em comparação às armas estratégicas, que são destinadas a obliterar cidades inteiras na tentativa de encerrar conflitos.
A retórica da guerra inclui ameaças nucleares, com Putin conduzindo exercícios complexos envolvendo diversos sistemas nucleares pouco antes da invasão em fevereiro de 2022. Ele alertou que qualquer intervenção a favor da Ucrânia resultaria em consequências sem precedentes na história, uma referência sutil às armas nucleares. Rússia e Estados Unidos detêm a grande maioria das ogivas nucleares do mundo.
A sombra da escalada nuclear tem influenciado o apoio do Ocidente ao governo de Volodimir Zelenski durante a guerra. Até recentemente, todos os países que forneceram armas à Ucrânia condicionaram seu uso à não provocação do território russo.
No entanto, uma declaração do chanceler britânico, David Cameron, sugerindo que os ucranianos tinham liberdade para usar os mísseis fornecidos por Londres, alterou essa postura. Pressionado pelos avanços russos, Zelenski passou a realizar ataques pontuais a refinarias e cidades na Rússia, mas até o momento apenas com armamentos próprios.
Nesta segunda-feira, as forças russas anunciaram a captura de mais duas pequenas cidades no leste da Ucrânia, aproximando-se cada vez mais de Chasiv Iar, um ponto estratégico para a tomada final da província de Donetsk. Especula-se que essa conquista seja exibida por Putin durante o desfile do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, na próxima quinta-feira (9).
Analistas ocidentais sempre consideraram a possibilidade de Putin recorrer a armas nucleares táticas caso enfrentasse uma ameaça de derrota decisiva. Com a recente sugestão de Macron de enviar tropas, o Kremlin intensifica a tensão ao anunciar os exercícios, que envolverão forças do Comando Militar Sul e da Marinha russa em data não divulgada.
Para uso tático, a Rússia possui mísseis como o Iskander-M e o Tsirkon, além de bombas de queda livre. A Otan estima que Moscou possua cerca de 2.000 armas nucleares táticas, enquanto os Estados Unidos mantêm aproximadamente 100 em bombas lançadas por aviões na Europa.
Apesar das vozes radicais na Rússia defenderem o uso de armas táticas como uma demonstração de força contra o Ocidente, especialistas em questões nucleares alertam para os riscos de uma escalada que poderia levar a uma troca de ataques com mísseis estratégicos, resultando em cenários apocalípticos.