Frente a recordes de temperaturas, a esperança de um resfriamento graças ao fenômeno climático
O ano de 2024 reserva a possibilidade de um clima menos severo se o fenômeno La Niña se manifestar prontamente, trazendo um necessário respiro às ondas de calor extremas vivenciadas globalmente. Esta é a análise de especialistas do serviço de Mudança Climática do Copernicus (C3S), que observam uma chance de mitigação nas tendências de aquecimento caso o La Niña acelere seu curso.
Nos últimos nove meses, o planeta registrou temperaturas recordes, uma sequência que desafia explicações sem considerar o impacto das emissões de gases de efeito estufa. “Estamos testemunhando um clima sem precedentes, impulsionado em grande parte pelas atividades humanas,” explica Carlo Buontempo, diretor do C3S. O fenômeno El Niño, embora menos intenso que em ciclos anteriores, foi sucedido por uma prolongada fase de La Niña, o que, até certo ponto, moderou as temperaturas extremas.
A pergunta que se impõe é: por que, mesmo após o pico do El Niño, as temperaturas persistem em níveis alarmantes? Historicamente, as temperaturas globais tendem a escalar após o El Niño, uma tendência que se confirma com a atual diminuição térmica do Pacífico e a antecipada transição para La Niña. “Estávamos caminhando para outro ano de recordes de calor, mas esse cenário pode estar prestes a mudar,” pontua Buontempo.
Em um contexto alarmante, o mundo experimentou, em fevereiro, quatro dias consecutivos de aquecimento acima de 2°C em relação à era pré-industrial, ultrapassando os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris. Essa série de dias quentes sublinha o aquecimento sistemático do planeta, sugerindo que episódios de temperaturas extremas se tornarão mais frequentes e intensos.
No entanto, segundo especialistas, embora estejamos navegando em águas desconhecidas em termos climáticos, os acontecimentos recentes ainda se alinham às projeções feitas no início do século. “Nossa civilização nunca enfrentou um clima tão desafiador quanto o atual, mas as previsões para esta década eram surpreendentemente precisas,” destaca Buontempo, ressaltando a necessidade de uma ação climática mais assertiva.
Os oceanos, absorvendo a maior parte do excesso de energia do sistema climático, sinalizam a gravidade da situação. A escalada das temperaturas oceânicas reflete o impacto direto das mudanças climáticas, estando ainda dentro do espectro das projeções anteriores, embora no limite superior para o período até 2023.
Em meio a essas revelações, o papel de fenômenos naturais como o La Niña torna-se crucial na moderação dos efeitos das mudanças climáticas, oferecendo uma janela de oportunidade para mitigar os extremos de temperatura e realçando a urgência em abordar as causas subjacentes do aquecimento global.