Antes mesmo da célebre reunião ministerial de 5 de julho de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro já vinha manifestando publicamente seu descontentamento com o sistema eleitoral brasileiro, insinuando repetidamente a necessidade de implementar o voto impresso para as eleições de outubro de 2022. Essas declarações, feitas em diversas lives e discursos, pavimentaram o caminho para o que seria conhecido como a Operação Tempus Veritatis pela Polícia Federal, desencadeada após o vazamento de gravações que evidenciaram a postura contestatória do ex-mandatário.
Desde 2021, Bolsonaro questionava a integridade das urnas eletrônicas, promovendo a ideia de que apenas a adição do voto impresso garantiria a lisura do processo eleitoral. Em uma das suas transmissões ao vivo, afirmou categoricamente: “Vai ter voto impresso em 2022 e ponto final… Se não tiver voto impresso, sinal de que não vai ter a eleição”. Tal declaração soou como um prenúncio de suas intenções de questionar os resultados eleitorais, caso não fossem adotadas as medidas que ele defendia.
A tensão escalou durante a reunião ministerial de julho de 2022, onde Bolsonaro sugeriu um “golpe sem armas”, incitando seus ministros a pressionarem o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a propagarem desinformação sobre as urnas eletrônicas. Essa abordagem foi interpretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como parte de uma “dinâmica golpista” orquestrada pelo governo da época.
Bolsonaro, por sua vez, proclamava que só entregaria a presidência se fosse derrotado em uma eleição que considerasse “limpa”, ou seja, com a adoção do voto auditável. Essa condição colocava em xeque a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro, sem apresentar, contudo, provas concretas de suas alegações de fraude.
Em um dos episódios mais emblemáticos dessa saga, na véspera da votação na Câmara dos Deputados sobre a PEC do voto impresso, 150 blindados desfilaram pela Praça dos Três Poderes, um ato interpretado como uma tentativa de intimidação. Apesar disso, a proposta foi rejeitada pela Câmara, não alcançando o número necessário de votos para ser enviada ao Senado.
Além de atacar o sistema eleitoral, Bolsonaro também direcionou críticas pessoais ao ministro Alexandre de Moraes, exacerbando a polarização política. Em discursos, chegou a exigir a saída do ministro do STF, acusando-o de censura e opressão ao povo brasileiro, o que culminou em um coro de apoio de seus seguidores, que declararam “Eu autorizo”.
Esses eventos não só marcaram o período que antecedeu as eleições de 2022, como também evidenciaram um cenário de confronto direto entre o poder Executivo e as instituições eleitorais e judiciárias do Brasil, repercutindo profundamente na democracia brasileira.